Em 1993, quando passei no vestibular para o curso de comunicação social da UFRJ, eu sabia que estava prestes a entrar em uma das melhores universidades do Brasil, mas nem desconfiava que eu passaria os 4 anos seguintes estudando em um lugar tão bonito. Fiquei encantado com o Palácio Universitário, onde aconteciam minhas aulas, no campus da Praia Vermelha.
O enorme prédio de arquitetura neoclássica era lindo e tinha cerca de 150 anos. Os corredores eram ladeados por belos azulejos azuis decorativos. As paredes eram inacreditavelmente espessas. Conforme eu caminhava por ali, ia descobrindo novas maravilhas: pátios internos quase oníricos, um teatro de arena ao ar livre, escadarias de madeira, gradis de ferro fundido, arcos de pedra, esculturas imponentes de carrara, lustres deslumbrantes, um piano de cauda, tetos decorados, janelas imensas, móveis clássicos, um átrio com piso de mármore geometricamente desenhado em trompe l´oeil, amplos salões ricamente ornamentados, vistas para o Pão de Açúcar e para o Cristo Redentor.
A maior surpresa talvez tenha sido encontrar, ao fim de uma escadaria, uma capela extremamente graciosa dedicada a São Pedro de Alcântara. Não era uma simples capelinha, eram 136 metros quadrados! Eu nunca poderia imaginar que encontraria algo assim por trás de uma das centenas de portas altíssimas da minha faculdade. Uau! Que privilégio!
Por tudo isso, é para mim muito triste saber que muito disso se perdeu ontem em um incêndio. Foram-se a beleza, obras de arte, um riquíssimo acervo da história do ensino superior no Brasil, dissertações diversas. Prefiro nem ver como ficou meu querido Palácio Universitário, cravado em uma enorme área arborizada da elegante Avenida Pasteur, quase à beira da Baía de Guanabara. Fico com a memória visual de suas belezas. Quase tudo que se vê nestas fotos está perdido. Foram-se a Capela São Pedro de Alcântara, o Fórum de Ciência e Cultura, o Salão Anísio Teixeira, o Salão Dourado, o Salão Vermelho, o Salão Muniz de Aragão e outros mais.
Ontem fiquei chocada com o incendio. Havia colegas meus trabalhando naquela restauração, todos choravam na hora e eu ouvia por telefone…
Obrigada por postar esse depoimento e as imagens.. Beios
Que perda lamentável! Por que tanto desprezo pelo bem comum, em nosso país? Por que tanta falta de cuidado? Que lástima!
Pergunta que não quer calar:
SERÁ VERDADE QUE O IPHAN NÃO AUTORIZAVA A COLOCAÇÃO DE EXTINTORES DE INCÊNDIO NO PALÁCIO DA UFRJ, PORQUE DES-CARACTERIZARIAM O PRÉDIO HISTÓRICO?
Grande perda. Uma pena que o Rio tenha tantos tesouros escondidos que só são desvelados para a maioria das pessoas em uma situação como essa.
É uma pena mesmo. Eu que gosto de história fiquei muito triste com isso, ainda mais este acervo histórico lindo que sempre ouvi falar que é lindo mas nunca fui, e agora ocorre isso :(
É triste o sentimento de perda de coisas queridas e belas. Porém, podemos perceber o quanto perecíveis e vulneráveis são as coisas, monumentais ou não, bem como o é também a humanidade. É para se refletir.
Até eu que não conheci tais belezas me entristeci… Fazer o quê? como vc bem disse: guardar as lembranças…
Alexandre,
Fiquei consternada com o evento, mas ter visto as fotos e a sua descrição tão minuciosa e vívida daquele lugar tal como era, me levou às lágrimas.
Estudei no campus da Praia Vermelha, mas precisamente no IP (Instituto de Psicologia) entre 1998 e 2004. A experiência acadêmica naquele lugar deixou marcas indeléveis.
É chocante assistir parte da história da instituição e do país perdidas por descaso. Por ineficiência. Será que aquele local não merecia um sistema anti-incêndio adequado? Algumas pessoas devem achar que não, talvez as mesmas que não deram ao acervo do Hélio Oiticica a devida consideração. Sou uma eterna otimista, mas me frustra acompanhar cotidiamente a desvalorização da educação, da cultura, da arte e do respeito pelos bens públicos deste país.
Obrigada pela postagem cheia de sincero pesar.
Um abraço,
Nina.
O post está equivocado. Somente a nave da capela e o auditório Anísio Teixeira, que fica embaixo, foram destruidos. Os demais salões do Palácio permanecem intactos.
Esse Eneraldo Carneiro não deve ir na Praia Vermelha a um tempo… ¬¬ O segundo andar do Palácio que é parte do Fórum de Ciência e Cultura e da Faculdade de Educação teve sua parte central praticamente toda destruída. Mas já está sendo restaurada.